Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias – Contos Avassaladores

Seres Mágicos e Criaturas Sombrias rompe os paradigmas de compilar categorias diferentes em uma única obra. É um livro que me trouxe a reflexão sobre o que é magia e o que é sombras. Todas as histórias, sem exceção, revelam uma espécie de conteúdo mágico ou sombrio em seu enredo, mesmo se tratando de um drama, de uma ficção científica clássica ou de uma alta fantasia.

Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias - Contos Avassaladores
Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias – Contos Avassaladores (Fonte: GMRhaekyrion)

Neil Gaiman e Al Sarrantonio se uniram para escrever e editar contos sombrios, fantásticos e dramáticos no livro Seres Mágicos e Histórias Sombrias.

Consumidora ávida de uma penca de obras de Gaiman ou de seus pupilos, essa obra somou-se ao hall quase infinito de preciosidades comandadas por essa mente sensacional.

Entretanto, o motivo por trás da escolha do título é bastante comum, fútil e digno da editora que o lançou.

Darkside e a Capa Caprichosa de Seres Mágicos e Histórias Sombrias.

Não se deve julgar um livro pela capa. Será?

Tenho o costume de passear pelo site da Amazon como se estivesse em uma livraria, buscando títulos novos para adicionar à vasta lista de desejos. Desde que conheci a Darkside com o livro A Menina Submersa, procuro a página da editora para conhecer novas obras.

Seres Mágicos e Histórias Sombrias me pescou pela capa – diga-se de passagem, a coisa mais linda – e, em seguida, pelo título. Sou uma fã incorrigível de criaturas e seres de qualquer tipo – a bióloga dentro de mim não tem como negar –, então, imaginei uma espécie de catálogo com esses monstrinhos maravilhosos no qual suas lendas, habilidades e anatomia fossem destrinchadas.

A sinopse me entregou a dura realidade: livro de contos. Não vou mentir que foi uma pequena decepção, tendo em vista as expectativas criadas, mas não posso afirmar que essa sensação perdurou após a leitura.

Contos – apesar de escrevê-los – não é a minha primeira opção de leitura. Gosto de romances extensos, de preferência sagas enormes, onde possa me envolver nas histórias até o tutano. Porém, exceções existem para isso e esse livro foi uma delas.

Você Costuma Ler as Notas do Autor?

Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias - Contos Avassaladores
Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias – Contos Avassaladores (Fonte: GMRhaekyrion)

Sou uma escritora que dispensa notas de autor na finalização de uma história – acho que tenho uma espécie de trauma da academia e seus modelos de dissertação –, portanto, não costumo ler essas considerações nos livros.

No entanto, dessa vez, os espíritos deram um jeito de voltar meus olhos para o que Neil Gaiman queria falar. Considerando a época caótica na qual vivia, foi como se o próprio tivesse me dando um conselho, tentando me salvar do poço sombrio que inventei de pular.

Gaiman apenas acredita que a vida é curta demais para não nos permitimos viver realidades diferentes, incluindo àquelas que estão apenas dentro de nossas cabeças. Ele reforça os anseios e incertezas que um escritor passar no processo de parir um livro. Destacando a insegurança sobre se aquela ideia tão mirabolante vai dar certo, vai render retorno financeiro e, principalmente, se vai cativar leitores.

Uma verdade absoluta para todo escritor é que queremos ser lidos, podemos não saber sua reação – por favor, se tiver ao alcance, fale! Amamos saber quais foram seus sentimentos e impressões –, mas queremos que aquele enredo atravesse oceanos e paire na prateleira da sua casa, consumindo sua atenção pelo tempo necessário para que a leitura seja encerrada.

Existem camadas densas e cansativas para que um livro seja publicado, de todas elas, a mais árdua é a de se manter crendo no enredo destrinchado nas folhas em branco. Muitos pensamentos intrusivos e depressivos passam em nossas cabeças. Duvidamos de nós, da ideia, do potencial. Cismamos que nada presta, principalmente nos dias que a inspiração falha e resta só a determinação para manter a escrita.

Ler Gaiman, um escritor tão famoso e consagrado na ficção, confessar suas dores do processo criativo, me passou conforto. Foi como se o próprio tivesse me dito que eu preciso ter calma, manter a perseverança e a crença na minha história. Foi um abraço tão profundo, tão reconfortante, que só por isso esse livro se tornou um dos favoritos.

Gêneros Diferentes em um Mesmo Livro?

O debate sobre a mistura de gêneros literários e o passeio entre eles é bastante extenso no mundo editorial. Existem os conservadores, que preferem tudo tal qual em 1800, outros, no entanto, trazem a flexibilidade e as novidades da vida contemporânea, atualizando as classificações de acordo com que anda na moda.

No entanto, é fato que alguém que gosta de terror não vai ler uma história romântica com o mesmo fervor – pode haver leitores assim, mas foi só um exemplo. Existem leitores muito rígidos com o que gostam de consumir. Por exemplo, não sou uma fã de drama, tão pouco de conteúdo romântico. Gosto do suspense tradicional, assim como a fantasia e o terror. Se um livro mistura essas categorias que acabei de citar, por mim tudo bem, ainda estão no meu gosto, mas se introduzem qualquer elemento meloso das cenas românticas, abandono sem piedade.

Seres Mágicos e Criaturas Sombrias rompe os paradigmas de compilar categorias diferentes em uma única obra. É um livro que me trouxe à reflexão sobre o que é magia e o que é sombras. Todas as histórias, sem exceção, revelam uma espécie de conteúdo mágico ou sombrio em seu enredo, mesmo se tratando de um drama, de uma ficção científica clássica ou de uma alta fantasia.

São mais de 15 autores compondo as páginas. Não é à toa que a variedade seja uma característica presente. Tem enredo para todo gosto, digamos assim, ainda que uma mensagem em comum seja transmitida.

Ressignificação do Clichê com um Toque de Inovação

Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias - Contos Avassaladores
Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias – Contos Avassaladores (Fonte: GMRhaekyrion)

Temos um livro de contos com uma proposta sombria. Tirando toda a beleza da edição, vamos aos detalhes sórdidos: há clichê até demais. Típicos fantasmas, super-heróis com ar de justiceiro, psicopatas clássicos e até vampiros.

Sou do time que gosta do clichê quando ele é bem-feito ou quando simplesmente é ressignificado por um ângulo inovador. No entanto, quando surge sendo o que é, sem qualquer acréscimo, tendo a descartá-lo. “Mais do mesmo”, como costumo dizer. E isso não me convence.

O que percebi em Seres Mágicos e Criaturas Sombrias foi a forma com que os autores encaram esses clássicos – se caso é essa a abordagem – ou como os repaginam e os apresentam por outro ângulo.

Destaco o conto Juvenal Nyx (Walter Mosley), que trouxe um vampiro com um ar bastante peculiar. Nesse mundo de noites e sangue, criaturas sombrias surgem da escuridão. Só de ter esses seres incríveis já achei o conto sensasional. Foi um desses que traz a atmosfera dos vampiros com uma roupa nova e uma ameaça que é pior do que os próprios.

Pesos e Medidas (Judi Picoult) traz o luto como plano de fundo principal. A perda pode tornar as pessoas sombrias, ruins, amargas e desacreditadas. A morte nem sempre é encarada como deve ser: uma fase da vida. E quanto menos aceitamos a ausência de quem amamos, principalmente quando envolve culpa, mais trevas trazemos para nós. Só que os personagens dessa história também precisarão lidar com um evento paranormal e não falo de fantasmas.

Misturar eventos comuns com o sobrenatural é outro aspecto que adoro nas histórias e esse conto o fez mais do que incrivelmente bem.

O Diário de Samantha (Dianna Wynne Jones) simplesmente me roubou. Ele é totalmente diferente de tudo que já li. A protagonista vive em um cenário futurístico extravagante, pouco a impressiona ou a interessa. Até que começa a receber aves de presente de um admirador secreto. Todo dia um pássaro diferente está na sua porta. Dentro de um mês a sua casa luxuosa se torna um muquifo.

Quem anda enviando esses bichos? Ela não pode se livrar deles de forma simples, tão pouco rápida, restando aceitar cada encomenda e tentar sobreviver até a solução aparecer. Já pensou? Todo dia uma ave exótica na porta? Por todos os deuses!

Esse, sem dúvida, foi meu conto favorito.

Para finalizar, quero trazer o conto Uma Vida em Ficção (Kat Howard). Uma mulher que é musa inspiradora de um escritor, começa a perceber que não é tão bom assim ser fonte de inspiração. Em uma bela manhã ela percebe que as linhas ficcionais da nova obra do escritor são refletidas em sua realidade.

Já pensou? Ler uma obra e depois simplesmente a história naquelas linhas se tornar real? Sinceramente, eu amo os enredos que escrevo, mas não queria viver a realidade daquelas personagens.

A protagonista não só percebe como sua vida se esvai, mas sua individualidade também. Assim que o escritor cria uma personagem baseada nela, sua personalidade e jeitos se tornam as da personagem. Ela já não sabe mais quem é.

Fiquei intrigada com a mensagem desse conto, porque escrevo para curar as dores que não sei nomear ou entender de forma clara e racional. Escrever faz parte de mim de forma integral. Não sei viver sem escrever. Mas me tornar minhas personagens? Ou transformar pessoas as quais me inspirei nas personagens? Céus! Isso me deixou em parafuso.

Por horas refleti como essa perda acontece frequentemente nas redes sociais. As pessoas vivem uma personagem inventada, que tem uma vida perfeita, fotogênica e cheia de aventuras incríveis. Qual a verdade por trás das telas? Ninguém sabe. Ou melhor, sabe, mas prefere consumir a mentira.

Penso na participante do reality Big Brother Brasil 2024, a Vanessa Lopes, uma celebridade do TikTok desde a adolescência, que teve surtos consideráveis dentro do programa, que isola os participantes de redes sociais e qualquer contato com o mundo mesmo antes do programa ir ao ar.

Não assisto BBB, mas esse caso me deixou reflexiva. Vanessa Lopes vive a realidade virtual desde muito cedo, sua vida real é a virtual, é criar conteúdo para a internet. O que não deve ter se passado em sua cabeça ali, obrigada a interagir com aquelas 15 pessoas, criar vínculos – de forma estratégica ou não – com quem ela conheceu ali ou só conhecia via mídias, sem a proteção da tela.

Passamos demais por esse processo de esquecimento de quem somos de verdade. É uma luta diária nos resgatar. Por essa razão o conto me impactou tanto.

Você já leu essa obra? Qual foi seu conto favorito?

Beijos de Fogo.

Ficha Catalográfica Seres Mágicos e Histórias Sombrias

Resenha do Livro: Seres Mágicos e Histórias Sombrias - Contos Avassaladores

Autor: Neil Geiman e Al Sarrantonio
Editora: Darkside
Gênero Literário: Antalogia e Ficção Sombria
Número de páginas: 448

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