O famoso Dungeons & Dragons introduziu ao mundo a sigla RPG de um jeito bastante diferente. O jogo de exploração e estratégia medieval deu início a um dos maiores movimentos da cultura Geek do mundo. Contagiando os tabuleiros, os games virtuais e, mais recentemente, os livros.
Role-Playing Game (RPG) é um jogo de interpretação no qual os dados são os juízes da partida. Concentrado na capacidade imersiva da narração de uma história, a criação de personagens de forma elaborada e um criterioso livro de regras, o RPG se tornou uma verdadeira febre para quem adora explorar mundos fantásticos e conseguir itens valiosos nas missões.
Vemos o queridinho RPG em jogos como o The Witcher III, Dragon Age e Skyrin, clássicos nesse assunto. Porém, franquias como a de Good Of War adaptaram o universo de Kratos para o padrão RPG.
Esse estilo de jogo possui uma variedade considerável de abordagem, que vai desde a mesa tradicional até os elaborados enredos das produtoras de games. Níveis de exploração e narração, ausência ou presença de certos elementos, ditam as classificações do RPG;
MMO RPG, RPG de mapa aberto, RPG explorativo, RPG de mesa, RPG narrativo, RPG de tabuleiro, RPG de cartas, são apenas algumas das quais experimentei ao longo desses anos.
Entretanto, a que venho destacar para vocês é o RPG de Mensagem de Texto, ou, resumidamente, RPG de Texto.
O Nascimento do RPG de Texto
Nascido nos primórdios da internet no Brasil, no bate-papo UOL, o RPG de Texto deu outro significado para o cunho interpretativo dessa prática de jogo.
Gosto de chamá-lo de RPG Escrito pelo simples fato da escrita ser o resumo mais simples desse tipo de RPG. O mestre e os participantes escrevem as cenas tal qual um escritor o faz em um livro.
Na mesa clássica de RPG, muito bem divulgada pela série Strenger Things, o mestre narra a cena para que os participantes possam elaborar uma ação, que só é validada após a rolagem dos dados; se alta for a pontuação, sua ação aconteceu, se for média, a ação ocorreu com certos requisitos, se for baixa, você errou o movimento e vai receber dano.
Para o RPG de Texto a partida é inteiramente escrita, com foco totalmente na descrição de como foi a ação, nos pensamentos das personagens e na forma como elas falam com as outras personagens. Completamente similar a construção de uma cena de um livro.
Os participantes narram suas ações sem que haja qualquer dado o limitando a acertar ou não seu movimento.
Então, como sei se acertei meu inimigo ou se meu plano deu certo?
As Mesas Viraram Clãs
Tradicionalmente, um grupo reunido para jogar RPG se chama mesa. Refletindo a prática inicial de se sentar ao redor da mesa com os mapas, fichas de personagem e livros de regras dispostos.
No RPG de Texto a alcunha da reunião passa a se chamar clã. Ainda que haja alguns grupos que tratem como mesa, o clã é o mais comum. Tendo em vista, principalmente, que os mesmos participantes seguem reunidos no mesmo grupo por até anos.
A ideia do clã se baseia na construção de regras específicas para aquele grupo, as quais seguem os turnos elaborados pelo mestre. Essas regras podem variar de clã para clã, servindo de caracterização. Sendo norteadoras para quem busca uma determinada atmosfera de jogo para se inserir.
Por exemplo, existem clãs que só jogam RPG sombrio, ou de vampiros. Outros, no entanto, preferem os medievais clássicos. Alguns embarcam no cyberpunk, pós-apocalíptico distópico ou apocalipse zumbi. Ainda, os que focam no período contemporâneo e os que incrementam o universo mutante na trama.
A criatividade é quem manda e por isso que existem tantos clãs, com tantas formas de jogo.
Quando comecei a jogar RPG de Texto, o clã o qual participei se chamada Masayuki e eles tinham a Aldeia da Folha, do anime Naruto, como base principal da história. Era regrar pertencer a um clã de ninja do anime, mas podia incrementar as habilidades que quisesse.
A prática de misturar universos de histórias reais, como Naruto, Terra Média, Game of Thrones, Residente Evil e até Crepúsculo, é o jeitinho RPG de Texto de ser. Apenas dentro desse estilo vi a possibilidade de você ser um Super Sayajin do clã Hyuuga, enquanto seu amigo é um Youkai do universo Inu Yasha, da casa Targaryen.
Essas misturas com ar de Fanfic caracterizam o RPG de Texto. Foi a possibilidade de simplesmente viver no mundo que eu quisesse, sendo quem eu queria, que me encantou para a prática.
Ausência de Dados, Livro do Mestre e Contagem de Pontos
O clássico RPG de Texto tem como principal objetivo a leitura das ações de cada personagem. Sendo assim, não há dados que as confirmem ou as descartem. O critério para validação segue as regras elaboradas pelo grupo antes do jogo propriamente dito acontecer.
O guia primordial costuma ser o quanto você descreve sua ação. Quanto melhor e mais elaborada for a descrição, maiores são as chances de suas ações serem consideradas. No entanto, alguns clãs selecionam juízes da partida, que analisam as ações dos participantes e interferem para que ele refaça a ação quando esta não faz sentido.
Hoje em dia existem roladores de dados online, usado por muitos clãs para validar ações. Entretanto, o clássico é simplesmente seguir o famoso bom-senso. Parede desordenado não ter parâmetros contábeis concretos, mas, na prática, as coisas fluem com sincronia e muito mais rápidas que os turnos tradicionais de RPG de mesa.
A figura do mestre é mantida, sendo chamado pela alcunha ou por líder do clã. Alguns grupos assumem avatares com nomes específicos e se chamam assim. É comum que o mestre tenha uma personagem de participação ativa nas campanhas, mas não é uma regra.
Cada mestre possui seu jeito de se organizar, mas não há nenhum livro específico do mestre. Tão pouco um de regras, de habilidades ou qualquer similaridade com os RPGs padrões; entretanto, atualmente, alguns clãs fazem uso destes e os adaptam para suas aventuras.
Ainda pode haver contagem de pontos, igualmente livre e a critério do mestre, mas não é uma regra. O comum é simplesmente haver um platô, uma cena em que o mestre decide que os participantes atingiram certo grau de experiência e podem melhorar as habilidades das personagens. Ou essa melhora é com o tempo de escrita da história.
Narração com Ponto de Vista e Ficha de Personagem
Como venho falando, a escrita é a força motriz do RPG de Texto, ela quem garante que você vai ser bem-sucedido ou não nas ações.
De forma resumida, descrever com o máximo de detalhe o que seu personagem está vendo, ouvindo, sentindo e pensando é o pilar primordial desse estilo de RPG. Quanto melhor descrita for o seu texto, mais ações podem ser consideradas.
Normalmente, o mestre narra o começo de uma cena e os participantes reagem a esta de acordo com o ponto de vista das suas personagens; um único participante pode ter mais de uma personagem ativa no momento da escrita. A narração dos participantes e as interações das suas personagens vão moldando a história aos poucos.
As fichas de personagens são comuns e basicamente contém uma biografia narrada de quem é aquela personagem e suas principais habilidades. Alguns clãs costumam colocar distribuição de pontos clássica para ter uma margem do nível de habilidade que aquela personagem possui, mas em suma costumam ser uma espécie de sinopse de quem vai entrar na história.
O mestre usa as fichas de personagem como fonte norteadora para verificar se os participantes estão sendo fiéis as habilidades ali colocadas, assim como usam da narrativa produzida para incrementar o enredo principal, criando desafios para os participantes de acordo com os textos por eles elaborados.
O caráter descritivo/narrativo desse RPG traz a ideia da escrita de livros. A construção da trama é junto com os demais participantes, havendo cenas de romance, formação de família, cenas eróticas, batalhas épicas e a sorte do que o clã atende como livre no seu grupo.
Muitas histórias que hoje são meus livros vieram da mesa de RPG que mestro.
Regras e Plataforma do Jogo
Assim como existem diversos tipos de RPG, existem plataformas distintas em que eles acontecem; tabuleiro, mesa tradicional, online em bate-papo, online em sala de campanha, online em console, online em fórum e até por cartas.
O RPG de Texto ocupa o espaço envolvendo aplicativos ou sites que contenham um bate-papo ao vivo. Hoje em dia esse espaço costuma ser o WhatsApp ou o Discord, mas já participei de fóruns no FaceBook, grupos no Orkut e no Spirit Fanfic (antigo Anime Spirit) e no caderno, como os astecas e maias.
Historicamente, o RPG como um todo iniciou nas cartas, então foi evoluindo com a tecnologia dos computadores e da internet, até chegarem à complexidade de hoje.
A possibilidade de unir pessoas há quilômetros de distância, de outros Estados e Países, faz os bate-papos serem os queridinhos de quem adora um RPG de Texto.
Usando chamadas de vídeo ou não, os grupos se reúnem em uma hora marcada e em um dia específico. O turno começa quando todos estão online e podem ou não ter hora para terminar.
Algumas mesas gravam os turnos e postam no YouTube como um streaming. Outras fazem lives ao vivo da Twitch e, ainda, as que deixam o audiovisual de lado e apenas se concentram na leitura.
O modo fluído desse RPG segue para as regras, que são elaboradas pelo mestre do clã, acordadas com o grupo e dispostas em um ambiente de destaque para que todos recorram a elas quando precisarem. Esse padrão pré-estabelecido pode variar conforme um tema encerra e outro inicia, sendo adaptável para o tipo de atmosfera que o grupo está buscando.
Por exemplo, existem clãs que não permitem que seus personagens morram e eles seguem únicos em qualquer aventura criada. Outras, no entanto, exigem que os participantes criem personagens novos para cada tema. Alguns clãs seguem uma história única ao longo do tempo, outros elaboram tramas com um fim definido.
Quando se cita regra e padrão, o único estabelecido no RPG de Texto é a criatividade, o amor por escrever e, claro, uma hora e um dia em que todos possam participar (a parte mais desafiadora do jogo).
Agora, me conta: Você já jogou esse estilo de RPG? Como foi sua experiência?
Beijos de Fogo.